27.8.13

Gilles Lipovetsky na revista francesa L'Express

De uma entrevista com o sociólogo Gilles Lipovetsky na revista francesa L'Express:


"Vivemos em um tempo superestetizado que, no entanto, não se traduz em um embelezamento do mundo."

"Estamos longe da imagem do artista profeta ou do artista maldito. Desde que Warhol reivindicou o status de artista comercial, a imagem romântica do artista deu lugar àquela do empreendedor, cujo objetivo é menos a glória eterna do que a celebridade e o dinheiro. O artista se põe de bom grado a serviço das grandes marcas: Murakami trabalhou para a Vuitton, Keith Haring para a Swatch. O artista é tratado como uma estrela: Damien Hirst fez uma capa para a Time, os grandes arquitetos são icones mundiais. E, em sentido inverso, todos os setores são declarados artísticos: os grandes chefs, os criadores de moda (que são expostos em museus), até os homens de negócios (Steve Jobs, o "artista visionário")... A arte era a inimiga do mundo do dinheiro, inaceitavelmente, ela acabou vítima da lógica do business. O tempo da oposição entre arte e economia faz parte do passado."

"As mídias de massa permitem um acesso às obras inédito na história: são milhões de indivíduos que, hoje, ouvem música, assistem a filmes e contemplam as mais belas obras arquiteturais do mundo. Da mesma forma, as mídias contribuem para a formação de um neoconsumidor esteta em busca constante de emoções ligadas a textos, sons e paisagens. O capitalismo estético proletarizou menos o consumidor do que o estetizou. Agora, os indivíduos, em massa, desejam ver as belezas do mundo e escutar música; eles decoram suas casas e se vestem de acordo com a moda. E o desenvolvimento dos meios midiáticos, da internet em particular, engendrou o desejo de criação pessoal em massa: como prova, os blogs, os clipes, as fotos. Entretanto, evidentemente, isso não é sinônimo de qualidade artistica. Da mesma forma, a democratização dos gostos estéticos não significa um enriquecimento da experiência estética: o visitante contemporâneo que permanece dez seguntos diante de uma tela de Ticiano, o que ele apreende? O que compreende daquilo que é a própria substância da beleza?"

"Desejamos saborear a qualidade do presente, mas a empreitada exige uma performance crescente com seu lote de estresse, frustrações e baixa autoestima. As tensões se multiplicam entre consumismo e ecologia, hedonismo e medicação da sociedade, qualidade de vida e aceleração dos ritmos (ansiedade, depressão, vícios), conflitos intersubjetivos (divórcios, separações, incompreensões...) estão em alta. O capitalismo estético globalizado e a individualização de nossa relação com o mundo são acompanhados pelo sentimento de passar ao largo da "bela" vida. A sociedade superestetizada não conduz a uma humanidade mais feliz."